A divisão de Mato Grosso pela ótica da imprensa

Este livro é resultado de minha dissertação de mestrado defendida em abril de 2015, no Programa de Pós-Graduação Mestrado em Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande. Compartilho com Roger Silverstone (2002) o pensamento de que a mídia está presente em todos os aspectos de nossa vida e, justamente por ser tão fundamental para a nossa vida cotidiana, ela deve ser estudada como algo que contribui para a nossa variável capacidade de compreender o mundo. Paulista de origem e sul-mato-grossense de coração desde 2007, como jornalista sentia a necessidade de compreender a história da imprensa desse estado que escolhi para viver. Quando desenvolvi o meu projeto de pesquisa para o mestrado, percebi que se tratava de um assunto sobre o qual dispunha de poucas referências, o que me levou a considerar a urgência e a relevância de uma pesquisa que pudesse contribuir com o resgate da história da imprensa de Mato Grosso do Sul. Como muitos admiradores e curiosos por história, acredito que para se entender o hoje, precisamos voltar nossos olhares para o ontem. Desse modo, para mim, a única maneira de iniciar uma pesquisa que versasse sobre a história da imprensa de Mato Grosso do Sul seria justamente partir do nascimento do estado. Sob essa perspectiva, escolhi estudar a imprensa em 1977, quando houve a divisão de Mato Grosso e a criação de Mato Grosso do Sul. Sem a pretensão de esgotar o assunto, e com a natural delimitação que todo o texto científico exige, decidi estudar a cobertura sobre a divisão de dois jornais que foram importantes veículos de comunicação das regiões norte e sul do então estado de Mato Grosso uno. Antes de eleger os jornais a serem analisados, pesquisei sobre os periódicos mais importantes da época e, desses, quais dispunham de acesso às publicações. Essa busca me direcionou para o Correio do Estado, de Campo Grande, único de abrangência estadual que não sofreu interrupção em seu funcionamento desde 1954, e para O Estado de Mato Grosso, de Cuiabá, que registrou o período histórico e teve mais longevidade que os demais, figurando como um dos únicos jornais diários de Cuiabá a circular no ano da divisão de Mato Grosso. Para a minha sorte, o Arquivo Público de Mato Grosso dispunha de todo o acervo do jornal O Estado de Mato Grosso (que fechou suas portas em 1996) e autorizou o registro fotográfico das edições do jornal no ano da divisão. O Correio do Estado, ainda em funcionamento, cedeu gentilmente cópias digitalizadas das edições que versavam sobre a divisão no ano de 1977. Após eleger os jornais a serem analisados, eu tinha que delimitar a minha pesquisa. Em uma prévia leitura dos jornais no período de janeiro a outubro de 1977, quando a discussão sobre a divisão do estado foi fomentada, verifiquei que a quantidade de textos informativos publicados sobre a divisão abrangia um universo muito extenso e, abarcar todo aquele volume de textos jornalísticos, poderia inviabilizar o meu trabalho. Optei, então, pelas edições que dedicaram a manchete de capa com ilustração ou foto na capa e respectiva reportagem sobre o tema. Com essas características, foram localizadas 21 edições do Correio do Estado e 17 do jornal O Estado de Mato Grosso. Tão logo comecei a pesquisa, percebi a necessidade de contextualizar o cenário político, econômico e social vivido pela imprensa da época para entender a linguagem jornalística empregada, acolhendo o alerta de DeFleur e BALL-ROKEACH (1993) sobre a necessidade de realizar inquirições sistemáticas acerca da natureza dos acontecimentos históricos e do valor dos sistemas sociais que forjaram a mídia em uma dada sociedade e levaram-na a produzir seu modelo de conteúdo. Esse resgate histórico, disposto na Parte I do livro, possibilitou uma visão um pouco menos estreita sobre o cenário social, econômico e cultural vivenciado pela imprensa do então estado de Mato Grosso uno do final da década de 1970. A Parte II compreende um resgate histórico da imprensa de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul e contempla um panorama dos jornais analisados. A Parte III se dedica ao conteúdo retratado pelas organizações jornalísticas no ano da divisão. A história da imprensa de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul precisa ser compreendida através de abordagens interpretativas que respeitem suas singularidades articuladas ao contexto mais amplo do desenvolvimento histórico da região Centro-Oeste do Brasil. Atualmente, o cenário de publicações acadêmicas versando sobre os principais acontecimentos da história da imprensa desses estados é praticamente inexistente e, por sua relevância, essa memória carece ser resgatada em suas diversas facetas para que a sociedade possa conhecer um pouco mais dessa importante região brasileira.

ISBN: 978-65-5388-137-2
DOI: doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-137-2

Biografia da autora

Danusa Santana Andrade - Doutora em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), é mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), pós-graduada em Comunicação Empresarial e Governamental pela Unitoledo, de Araçatuba (SP), e graduada em Jornalismo pela Unifev, de Votuporanga (SP). Possui experiência de duas décadas na área da comunicação, com ênfase em jornalismo impresso diário, assessoria de imprensa, jornalismo on-line e radiojornalismo. Tem especial interesse pelos contornos do fenômeno contemporâneo do jornalismo que permeia profundas alterações nos modos de produção, distribuição, recepção e armazenamento do conteúdo informativo a partir do advento da cultura digital que tem, por sua vez, forçado as organizações jornalísticas a repensarem os seus modelos de negócio na web.