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Passou, mas permanece: notas sobre obituários, biografia e sociedade
Palavras-chave:
Obituários, Biografia, SociedadeSinopse
Como contamos sobre as nossas vidas e as dos outros? Esse foi o meu impulso inicial para uma série de esforços, pesquisas e entendimentos que agora toma corpo neste livro. O curso da vida é uma fonte inesgotável para a literatura, a filosofia e as ciências sociais, apenas para citar algumas áreas. Para além de sua utilidade, defendo que ao pensar sobre biografias – ou como neste caso, especialmente essas enquadradas diante da morte –, algo se transforma para aqueles que se aproximam. Esta pesquisa ocorreu nos anos de 2015 e 2016, durante o meu mestrado em Sociologia, e estou certo de que anos depois, os mesmos obituários ainda me oferecem fascínio e aprendizado.
Este livro consiste em edições da obra original, a minha dissertação de mestrado, de modo a facilitar a leitura para qualquer pessoa interessada no tema, embora também preserve uma discussão conceitual diluída entre as biografias que permeiam todo o texto e o enriquecem. Para esta investigação, parti de três considerações. A primeira delas é que sabemos que as práticas e ritos sobre a morte não se referem apenas aos que continuam vivos e o processo de luto. Certos ritos e protocolos, como as orações ao doente em fase terminal ou o discurso fúnebre, também são necessários para garantir a “boa passagem” do morto para a sua nova condição. Aqui a morte e aquele que falece são agentes ativos no mundo dos que ficam.
Uma segunda consideração é que as biografias carregam em si valores, normas e refletem os modos de vida de uma coletividade. Assim como escreve Norbert Elias em seu livro “Mozart: A sociologia de um gênio”, o próprio contexto sócio-histórico de uma biografia já demonstra como a experiência individual e social se articulam mutuamente. Para que se conte uma trajetória, é necessário ordenar fatos, determinar uma linearidade para a vida contada e, ao privilegiar um percurso e não outro, este processo também envolve interpretações sobre o que é mais ou menos importante. Basta pensarmos em como frequentemente contamos a nossa história de vida, quais fatos determinamos como relevantes e quais experiências escolhemos como as mais significativas.
Um terceiro aspecto é que, no caso dos obituários, não se trata de autobiografia, mas sim da biografia que é contada sobre alguém. Os elementos que atravessam essas biografias escritas, como os sentimentos relacionados à morte pela família, o anúncio no jornal e a apreciação dos leitores, permitem esboçar quais recorrências são atendidas nesses obituários. Ou seja, quais eixos que correspondem a expectativas sociais comuns, noções que evocam aspectos de profissão, casamento, família e religião, para citar apenas alguns tópicos. Embora não seja exclusivo dos obituários aqui apresentados, esses enfatizam algumas vivências em detrimento de outras. Marcadores de gênero, classe, raça e origem condicionam e transformam a prática obituária, além de servirem como registros vivos do tempo presente e de mudanças históricas. Tudo isso será aprofundado nas páginas seguintes.
Por fim, gostaria de agradecer a todos os trabalhadores da Universidade Federal de Goiás, seus docentes e técnico-administrativos, que permitem que ideias e conquistas se materializem, como as minhas. Agradeço também à orientadora desta pesquisa, a professora Eliane Gonçalves, e aos amigos por todo o suporte neste e em outros momentos da vida acadêmica.
O título deste livro, “Passou, mas permanece”, é homônimo a um livro de memórias escrito por uma das perfiladas nos obituários, a curitibana Iamir Pereira de Souza. Trato com maior atenção a sua biografia na terceira parte deste livro, mas adianto que este contato é o que mais me tocou nessa empreitada de retorno ao texto. Iamir, ou “Selma” como também foi conhecida, representa como as narrativas sobre aqueles que partiram reverberam longe, conectando tempo e espaço de outras vidas. Dedico a ela este trabalho.
ISBN: 978-65-5388-166-2
DOI: doi.org/10.36926/editorainovar-978-65-5388-166-2
Biografia do autor
Deyvid Morais é graduado em Ciências Sociais, mestre e doutor em Sociologia pela Universidade Federal de Goiás. É colaborador do Núcleo de Ensino, Extensão e Pesquisa em Gênero e Sexualidade Ser-Tão. Sua trajetória acadêmica é dedicada ao estudo das trajetórias de vida, à constituição das identidades e da diferença na sociedade.

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